SÉRGIO MAESTRELLI
- MARCIA MARQUES COSTA

- 4 de set.
- 7 min de leitura
A 1ª dama da cultura italiana nos deu adeus.
No dia 27 de agosto, Urussanga se despediu da professora Ana Maria Mariot Vieira.

Do Poder Público Municipal
A prefeita de Urussanga decretou luto oficial pelo seu falecimento, ocorrido no dia 26 de agosto, aos 82 anos. A medida representou o sinal do respeito e o reconhecimento a sua grande contribuição na área educacional e cultural da cidade. Durante o período de luto, as bandeiras do município foram hasteadas a meio mastro nas repartições públicas.
Quem foi Ana e o que ela representou para Urussanga?
Ana nasceu em Urussanga em 27 de janeiro de 1943, casou-se com Ado Cassetari Vieira, com quem teve duas filhas, Ana Cristina e Ludmila. Foi primeira-dama e exerceu o cargo de professora de História, Secretária Municipal de Educação e Cultura, Diretora de Cultura. Foi protagonista de importantes avanços na área cultural do município.
De seu legado cultural
Com o apoio do empresário Geraldo Fornasa e do prefeito Ado,seu marido, idealizou e impulsionou a tradicional Festa do Vinho, um dos símbolos da nossa identidade cultural. Personagem principal e central na criação da Escola De Língua Italiana Padre Luigi Marzano. Foi a Curitiba e junto ao Consulado Italiano, conseguiu materiais e símbolos que reforçaram o resgate da italianidade local. Lá deixou o seu veículo estacionado e posteriormente o mesmo foi roubado e nunca mais encontrado. Viabilizou algumas publicações e dentre elas, “Colonos Italianos nas Florestas do Brasil”, numa reedição em italiano e numa edição em língua portuguesa. Outra publicação envolveu a obra “O professor de Urussanga”. Em 1983, trouxe da Alemanha o tenor urussanguense Aldo Baldin para as devidas homenagens, viabilizando inclusive o famoso LP azul com a Igreja Matriz na capa. Lutou, persistiu e conseguiu implantar o complexo cultural no antigo Retiro Pamir, transformando no Parque Municipal do Vinho, posteriormente batizado com o nome de seu marido. O centro cultural abriga o museu, escola de italiano, coral infantil, grupos de danças, Restaurante San Gennaro, além do anfiteatro no formato de asa delta. Em 2007, na X Festa Ritorno Alle Origini, como Diretora de Cultura, foi presença marcante na montagem da exposição “Aldo Baldin: Uma Trajetória e Tanto!”, evento cultural que também reuniu no San Gennaro quase 50 representantes da Família Baldin, inclusive a esposa do Aldo e sua filha. Ana foi peça chave para a escrita de inúmeros trechos do livro amarelo “Do Parreiral à Taça”. A cor deste livro foi inspirada na cor do vinho Goethe e na nossa Casa Amarela. O amarelo é a cor mais marcante do italiano. Em nossas inúmeras entrevistas em sua casa ou na Casa Amarela, Ana vivia e respirava cultura. Quando falava em cultura e em história, seus olhos brilhavam intensamente. Nós estamos atrasados. Em cultura precisamos progredir muito. Tem muita estrada a percorrer, afirmava ela. Ana tornou Urussanga mais forte e mais respeitada culturalmente.
Na imagem que ilustra esa página, o registro da nossa conversa demorada sobre cultura no Supermercado Althoff.
Do reconhecimento em vida
O povo de Urussanga outorgou a ela, através da Câmara de Vereadores, o título de “Mulher Cidadã Urussanguense”, por indicação do Rotary Club em reconhecimento ao seu grande trabalho na área cultural, uma mulher à frente de seu tempo. No Centro Cultural, as vinícolas Mazon Daudt, Irmãos Cadorin e Vitivinícola Urussanga afixaram uma placa de agradecimento à Ana Maria na III Festa do Vinho em 1988. Atuando profissionalmente no Vale do Itajaí e Blumenau nas décadas de 80 e 90, lhe enviei nossos livros escritos sobre a história do município de Timbó/SC registrando que um urussanguense, morando distante, acompanhava, reconhecia e agradecia o seu trabalho árduo e persistente na preservação da história, usos, costumes e tradições dos imigrantes italianos em Urussanga. Recebemos uma resposta bastante emocionada. Da Academia de Letras recebeu o título de eterna 1ª dama da Cultura Italiana. Quando presidente desta entidade, Ana nos entregou uma poesia escrita pela sua prima Gleci Mariot, dias antes de seu falecimento, cuja vida foi ceifada ainda jovem por um acidente automobilístico no Rio Grande do Sul. De parte da poesia: “Bateram à porta, mas não fui atender porque achava que era a saudade que viesse me perseguir. Bateu, uma, duas, três vezes e não mais insistiu. Foi embora e deixou na porta um bilhete com essas palavras fatais: “Eu sou a felicidade e não voltarei jamais.”
Das Homenagens no Campo Santo
Conforme registrou Edith Crema Fontanella na celebração de exéquias conduzida pelo Padre Fernando e pelo ministro das exéquias, Vanderson da Silva, amigos e familiares se solidarizaram com a família enlutada e se reuniram não para celebrar a morte, e sim a vida e as virtudes de Ana e do período que viveu conosco. Homenagear aquela que fez muito pela família, pela comunidade, pela preservação da cultura urussanguense. O arquiteto e ex-Diretor de Cultura, Nevton Bortolotto, seu braço direito no avanço e nas conquistas culturais da então 1ª Dama, foi o personagem que abraçou o seu projeto de resgate da cultura italiana, os usos, costumes e tradições de nossos imigrantes. Bortolotto deixou a sua mensagem em nome do Movimento Cultural. Disse ele que Ana pensava forte e pensava para frente. Não brincava com o que pretendia fazer. E assim veio a Festa do Vinho, veio o parque, veio o centro cultural, veio o San Gennaro, veio a orquestra, a banda, a escola de língua italiana, o museu... Ela literalmente arregaçava as mangas pela cultura juntamente com seu cunhado Hedi Damian, com dona Amábile e com Armando Bettiol. “Estávamos juntos nessa batalha”, disse Bortolotto com o apoio também da professora Arlete Fréccia e da Cecília Lavina. Ana foi a responsável por “pescar” o Bortolotto em Nova Veneza e trazê-lo para cá para o inventário dos casarões da Praça que resultou no abençoado tombamento, refletindo cultura pura. Nessa vida perde-se o corpo, matéria, mas preserva-se a alma, o espírito. Ela deixa saudades. Ana, ao convidar o arquiteto afirmou: “Bortolotto, você não pode me deixar na mão.” E ele não a deixou. Veio para la Nostra Benedetta e não conseguiu mais sair. A professora Arlete Fréccia Sales, professora de Língua Portuguesa e amiga, registrou bastante emocionada o inesquecível jantar das cinco no Nonno Lauro Ristorante com suas principais amigas íntimas: Iraci Baldessar Barbosa, Maria Emília Cecconi, Irene Turazzi e Neide Mazzucco Zanatta, em que os bons tempos e a vida foram revisitados e passada a limpo. Cristina, falando em nome dela e de sua irmã Ludmila, agradeceu as homenagens e registrou que ela herdou da mãe a sensibilidade e fez um pedido: Que se preserve e se mantenha a força da cultura urussanguense. Se a Cristina herdou o grau apurado da sensibilidade da mãe, Ludmilla herdou o lado profissional do pai. “A Deus, o agradecimento pela vida e pela trajetória de minha mãe. Minha mãe não inventou Urussanga, ela apenas enxergou algo mais em Urussanga”, finalizou a filha. Terezinha Possenti afirmou que o grupo “Cantando Si Va”, com seus 12 membros originais, surgiu de um pedido explícito de Dona Ana, pois Urussanga precisa de um grupo de cantores do nosso folclore. E que com o devido incentivo, o Grupo chegou até o Programa do Faustão em 1999. Surgiu também numa época anterior o Grupo Vino Amore e Tradizione, um trabalho persistente de Neide de Pellegrin, também por ela apoiada. A Prefeita Stela de Agostin Talamini, em sua mensagem, afirmou que Ana foi uma pessoa à frente do seu tempo. Foi uma pessoa carregada de educação, simpatia, foi agregadora, guerreira e que seu legado foi reconhecido.
Vai a criatura, permanece sua criação. Um legado grande. Um grande legado.
Deixa para os urussanguenses um rol de obras culturais de grande porte. Ana foi Urussanga e Urussanga foi Ana.
Que o Senhor a receba numa de suas moradas e que para ela brilhe a luz. O Senhor te guardará de todo o mal. Ele guardará a tua saída e a tua chegada. Para hoje e para o todo sempre. Amém. Na despedida final, tudo foi encerrado com a turma da cultura que puxou o tradicional canto da imigração italiana: “Da Itália noi siamo partiti”. Tenho certeza que Dona Ana neste momento sorriu e seguiu em paz, rumo à eternidade. Se não houver vida eterna, a vida terrestre terá sido uma grande farsa da natureza. Eu acredito em vida eterna e você também deveria acreditar.
PÍLULAS
Aprovado na Câmara, projeto de Decreto Legislativo que outorga título honorífico de Cidadã Honorária de Urussanga à senhora Rosane Aquino Ribeiro, projeto este de autoria da vereadora Rosemeri Aparecida Mafra da Silva. Rosane, detentora de um grande número de medalhas na natação é filha do Lourdes Simões e do engenheiro Tasso Aquino, o maior engenheiro da história do carvão. Por décadas a família residiu primeiramente em Rio Deserto. É desse engenheiro a planta da casa onde residimos desde 1995.
“Quem dorme na palha é o gorgulho”. Souvenir Cechinel Demarch, uma das três gralhas da “Voce Della Benedetta” na definição dela mesma.
02 de setembro de 1999 - 150 anos da Fundação de Blumenau. Há cerca de 26 anos atrás nós defendíamos tese de mestrado pela UFSC, com o tema Capacitação da Família Rural e Atividades Não Agrícolas no Meio Rural do Médio Vale do Itajaí. Puxa! Como o tempo voou. O trabalho foi todo digitado pela amiga Inês Marangoni De Brida. Era o início da computação na empresa. Época de ficar com cabelos em pé e olhos arregalados pela ignorância digital.
ATTENTI RAGAZZI
Do nosso folclore político: “Quando vocês tinham a ‘maiorança’, vocês faziam o que queriam, agora vocês são a ‘minorança’. A coisa mudou”. Frase atribuída ao vereador e ex-presidente da Câmara, Luís Carlos Cardoso, o Nariz.

Valentin Santos Escarrone, técnico agrícola, natural de Alegrete/RS, terra do grande poeta Mário Quintana, Maria Eduarda Botelho de Souza, engenheira agrônoma, natural de Criciúma/SC, Henrique Viana e Silva, engenheiro agrônomo, Léia Mariot, secretária. Os três extensionistas irão cuidar do campo, enquanto a Leia, da função administrativa. Secretária para mim sempre foi a “alma do escritório”. Agora para a equipe estar completa, só estará faltando uma Extensionista Social, pauta para 2026. Essa ampliação da equipe da Epagri tem a digital e os méritos do vice prefeito Renato Bez Fontana. Desejamos ao Valentin e à Maria Eduarda que estão chegando, sucesso, que desenvolvam grandes projetos e que façam a diferença no âmbito da Família Rural, razão de ser de nosso trabalho e merecedores do nosso mais profundo respeito e admiração. Votos idênticos ao Henrique e a Léia nessa nova etapa.

Algumas ações de peso na área cultural vêm sendo realizadas. Uma dessas últimas ações, ocorrida no sábado passado foi o projeto das Manas Bonetti (Michele e Marielle) em “Nossa História em Tesselas”, com a participação da professora Mariana Burigo De Menech e seus alunos, Manuela Custódio, Karla Ribeiro. Este belíssimo trabalho agora está afixado no local correto. Logo na entrada de nosso Centro Cultural. E você sabe o que são “tesselas”. São pequenos fragmentos de pedra, vidro ou cerâmica que permite a criação de desenhos. A palavra é de origem latina/grega referindo-se a cubos. P








