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Bettiol relembra os pioneiros da medicina em Urussanga


No final do século XIX, mais precisamente em 1890, Urussanga começou a contar com os serviços de médicos italianos que contribuíram significativamente para o desenvolvimento da saúde na região. Entre os primeiros profissionais que por aqui passaram, destacam-se nomes como o Dr. Bussolo, o Dr. Vecchio, o Dr. Giovanni e o Dr. César Sartori — este último reconhecido como um exímio oftalmologista que posteriormente seguiu para Lages, onde seu legado é homenageado com um busto na praça da Catedral.

Outro nome relevante foi o do Dr. César Ávila, amigo próximo de Caetano Bez Batti, que deixou Urussanga para se tornar um dos maiores cirurgiões do Rio Grande do Sul em Porto Alegre. O Dr. Rótulo também marcou presença na cidade antes de seguir para Laguna.

Entretanto, dentre esses profissionais, destaca-se a história singular e emblemática do Dr. Vittorio Giacone.

Em seu livro Tanti Anni Dopo, a escritora Marcia Marques Costa registra um pouco da vida deste italiano.

Segundo ela, “quando Dr. Vittorio Giacone chegava a Urussanga em agosto de 1927 para fixar residência, foi chamado às pressas para atender o imigrante Ferdinando Bettiol, o qual se encontrava gravemente doente e veio a falecer.

Dr. Giacone, como passou a ser historicamente conhecido, saiu de sua longínqua Itália trazendo na perna uma bala de arma de fogo (resultado de sua participação em uma batalha na 1ªGuerra Mundial) e deixando para trás o seu grande amor- Michelina.

Depoimentos de urussanguenses que vivenciaram essa época, dão conta de que Michelina era casada quando conheceu Dr. Giacone.

Ambos se apaixonaram e, quando Michelina soube que ele viria embora para o Brasil, prometeu que logo estaria com ele. E realmente veio.

Dr. Giacone e Michelina (Lina) viveram em Urussanga por quase seis anos, trazendo tranquilidade para a população, que podia contar com um médico que chegava rapidinho com sua moto ou seu cavalo. E isso era uma grande conquista para uma comunidade que recebia esporadicamente a visita de um médico e que, nas emergências, precisava colocar o paciente em uma carroça para levá-lo a Pedras Grandes, de onde pegava o trem até Tubarão.

Em 1933, o médico resolve voltar a Itália para fazer uma cirurgia para retirar a bala da perna. Chegando em Turim-IT, no dia 26 de setembro, o marido de Michelina vai ao seu encontro e lhe dá o tiro fatal. Morre o médico tão amado por Lina e por todos os urussanguenses.

Desse homem, que saiu da Itália para viver seu breve caso de amor em Urussanga, e que se doou pelos seus “contadini” nas horas mais difíceis, restou um respeito que permanece até os dias atuais, com a imagem do médico andando à cavalo com seu amigo Privato Damian, ou na lembrança de seu falecimento carinhosamente guardada pela neta de Ferdinando - Adélia Bettiol.”

Mas, conforme relato do neto de Ferdinando- o urussanguense Armando Bettiol, a vida do Dr. Giacone em Urussanga foi marcada não só pela medicina, mas também por empreendimentos locais.

Junto ao Sr. Frederico Zanin e outros parceiros, ele fundou uma fábrica de sorvetes e gelo que abastecia hospitais importantes como o Nossa Senhora da Conceição em Tubarão e o Hospital de Laguna com cerca de 400 quilos de gelo semanalmente embalados cuidadosamente para transporte.

O sorvete produzido ali era feito por um especialista trazido diretamente da Itália e conquistou grande popularidade nas cidades vizinhas. A fábrica operou até 1933.

O médico também possuía terras em Bom Jardim, que eram cuidadas por Caetano Bez Batti e foi proprietário do que se acredita ter sido a primeira motocicleta do sul do estado.

Reconhecido como médico conceituado e muito respeitado pela comunidade local, sua trajetória é lembrada com carinho até hoje. Dona Michelina retornou à Itália após a morte de Giacone e faleceu anos depois.

“Essa mulher me segurou no colo quando eu era neném; ela vinha aqui em casa e me embalava”, recorda emocionado o senhor Armando Bettiol.

Assim permanece viva a memória dos primeiros médicos italianos que ajudaram a construir a história da saúde em Urussanga, sobretudo a do Dr. Vittorio Giacone, cuja vida foi marcada por coragem, dedicação e episódios dignos de um romance histórico.

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