Agostinha Carniato Mafioletti entre curas, fé e visões
- MARCIA MARQUES COSTA

- 10 de set.
- 4 min de leitura

Em Urussanga vive uma mulher cuja vida se entrelaça de forma profunda com a espiritualidade.
Seu nome: Agostinha Carniato Mafioletti.
Aos 75 anos, carrega consigo uma devoção intensa e singular. Ela não é benzedeira no sentido tradicional, mas uma devota cuja fé se manifesta em orações, intercessões e visões que acredita serem sinais de um dom divino concedido para curar e proteger aqueles que a procuram.
Desde a infância, Agostinha relata experiências místicas que marcaram sua trajetória. Para ela, a vida espiritual não é apenas teoria, mas uma prática viva e diária, marcada por visões de santos e da própria Nossa Senhora de Fátima, que aparecem de maneira inesperada. “Esses dias ela apareceu de novo. Eu disse: ‘me leva, pelo amor de Deus, me leva, porque o mundo está cheio de morte, de criança, de tudo’. Mas ela disse: ‘não, não chegou a hora ainda’”, recorda.
Agostinha não possui formação acadêmica, mas desenvolveu um método próprio de intercessão. Ela mantém registros detalhados em papel, marcando nomes e situações das pessoas que buscam sua ajuda. Cada folha é, para ela, um canal de conexão com o divino, permitindo-lhe identificar aspectos físicos e espirituais das pessoas: saúde, energias negativas ou angústias.
“Eu faço assim: se for a vontade de Deus, fica na tua mão, faça o que Deus acha, se é pra curar. Mas quando é amanhã, não tá tudo curado? Então Deus me ouve, eu fico feliz”, explica.
O espaço físico de Agostinha é um verdadeiro santuário. Cada objeto sagrado — imagens de Nossa Senhora, São Pio, São Bento e do Padre Agenor — possui significado profundo e é utilizado em suas orações e bênçãos.
Ela mantém o terço constantemente à mão e reza em horários específicos, como às três horas da tarde, correspondendo à hora da morte de Jesus. Para Agostinha, a devoção e o cuidado com os santos e objetos sagrados permitem que sua intercessão tenha força e alcance resultados visíveis.
A prática espiritual de Agostinha também se manifesta na cura de pessoas e animais. Entre relatos surpreendentes, ela menciona a recuperação do filho metalúrgico de uma leucemia, atribuída a tratamentos com ervas do campo e intercessão divina.
Conta, ainda, sobre um boi no sítio que sofria com uma ferida grave: após uma bênção, o animal apresentou melhora e sobreviveu. Tais episódios são considerados milagres por ela e pelos que testemunham seus efeitos, e refletem sua crença na ação de Deus através de suas mãos e orações.
Apesar da intensidade de sua vida espiritual, Agostinha mantém uma relação próxima com a realidade cotidiana.
Recebe visitantes de diferentes origens — policiais, médicos, empresários, e pessoas comuns — sempre oferecendo seu auxílio com atenção e discrição.
“Eu abro o portão para todo mundo. Ninguém me toca. Me dá a mão, meu anjo”, afirma. A prática da intercessão não se limita à presença física; ela também ajuda à distância, por telefone, guiada por sinais e orientações divinas.
Agostinha descreve visões que surgem de forma inesperada e detalha encontros espirituais com figuras sagradas, incluindo manifestações do seu falecido marido e de santos. Em uma dessas experiências, relata que uma sombra de Nossa Senhora lhe apareceu, levando conforto e orientação em um momento de desânimo. Para Agostinha, tais encontros são confirmações da presença de Deus e da importância de sua vocação.
A fé de Agostinha também se manifesta na preocupação com a continuidade da tradição espiritual. Cita São Pio como referência: “Ele morreu com quase 100 anos e disse que nós não veremos mais outros. Por isso, têm que vir gerações mais novas, benzendo.”
Ela entende que a transmissão da prática de cura e oração é essencial para que o trabalho espiritual continue após sua ausência.
Sua rotina é marcada por oração, visitas ao santuário, acompanhamento da família e atenção aos que a procuram. Ela combina devoção intensa com simplicidade: não se considera espírita, mas sabe que sua vida é guiada por sinais divinos e pelo desejo de ajudar.
“Eu sou Mariana de caridade. E eles vieram me visitar”, afirma, destacando que seu caminho é de serviço e compaixão.
Ao relatar os milagres e curas, Agostinha revela que cada ato de intercessão é precedido de discernimento espiritual e cuidado com a energia que envolve a pessoa: “Eu não sei como é que eu faço isso. Eu não sei. Se eu não comer, eu vivo. Orações, me sustentam.”
Para ela, a oração é alimento e força vital. A história de Agostinha Carniato Mafioletti transcende o relato pessoal e se destaca como uma narrativa sobre fé, devoção e compromisso com o bem do próximo. Ela representa uma ligação direta entre o sagrado e o cotidiano, mostrando que milagres e visões podem coexistir com a vida familiar e comunitária. Sua existência é um testemunho vivo de que a espiritualidade, quando vivida com intensidade e humildade, pode transformar vidas e fortalecer laços humanos.
Mesmo com a idade avançada, ela mantém firme sua missão: interceder, curar e proteger. “O que eu mais quero? É só interceder a Deus para curar. Cura e libertação”, diz, encerrando sua fala com a certeza de que seu trabalho é guiado pela fé e pelo amor ao próximo.










