Ex- jogador da Seleção Cubana de vôlei dá aulas na região da AMREC
- MARCIA MARQUES COSTA
- 10 de set.
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Por trás de grandes trajetórias esportivas e acadêmicas, muitas vezes existem encontros inesperados que mudam destinos inteiros. Esse é o caso do casal formado pelo ex-jogador de vôlei cubano Angel Dennis e pela pesquisadora e gestora social Sanny Mazzuchet, que hoje dividem a vida no Sul do Brasil entre projetos esportivos e sociais. Unidos por uma história de amor que começou em um voo de Buenos Aires a Florianópolis, eles compartilham conquistas, desafios e uma visão de futuro baseada no acolhimento e na transformação de vidas.
Nascido em Havana, Angel Dennis construiu sua carreira esportiva no alto rendimento. Foram cinco anos vestindo a camisa da seleção cubana de vôlei, período em que disputou grandes competições internacionais, como o Mundial, a Copa do Mundo, os Jogos Pan-Americanos e até um ciclo olímpico.
“Participei de campeonatos importantes, vivi intensamente o esporte de alto nível. Mas, aos 22 anos, decidi deixar Cuba e seguir carreira nos clubes italianos”, recorda.
A mudança para a Europa marcou uma nova fase: Dennis brilhou em ligas italianas por mais de uma década e se consolidou como atleta respeitado. Hoje, aposentado das quadras profissionais, ele encontrou no Brasil — país natal de sua esposa — o espaço ideal para plantar novas sementes. Em Forquilhinha (SC), desenvolve um projeto com categorias de base do vôlei, treinando jovens de 11 a 18 anos.
“É uma forma de devolver ao esporte tudo o que ele me deu. Quero ajudar meninos e meninas a sonhar, a acreditar que o vôlei pode abrir portas, assim como abriu para mim”, afirma.
Se a carreira de Angel foi moldada pelo vôlei, a de Sanny Mazzuchet trilhou os caminhos da pesquisa e do terceiro setor. Natural de Içara, ela fez mestrado e doutorado na Argentina, voltando ao Brasil para se recuperar de uma cirurgia no ombro. O destino, no entanto, tinha outros planos.
“No voo de volta, encontrei o Angel. Ele estava no assento ao meu lado. Começamos a conversar, trocamos contatos e, 14 anos depois, aqui estamos, casados, com duas filhas e muitas histórias pelo mundo”, relembra, com um sorriso de quem ainda se surpreende com a própria sorte.
Especialista em projetos sociais, Sanny atua hoje como assessora da Coopercocal, cooperativa que está implantando a Clínica Coopercocal Inclusive, voltada ao atendimento de crianças com autismo.
“É um projeto humano e necessário. Queremos oferecer acolhimento às famílias, inclusão verdadeira e um espaço que dê esperança. Trabalhar com isso é transformar amor em ação social”, resume.
Depois de temporadas na Itália e em outros países, a família decidiu fixar residência definitiva em terras catarinenses. A escolha foi motivada não apenas pelo desejo de estar próximo dos pais de Sanny, mas também pelo ambiente que mais se assemelha às raízes de Angel.
“O Brasil me lembra muito Cuba: o clima, a cultura, a alegria do povo. Cheguei aqui e me senti como em Havana. Mas, acima de tudo, encontrei minha casa com a Sanny e nossas filhas. Hoje me considero um cidadão do mundo, mas é no Brasil que quero ficar”, diz Dennis.
O casal construiu uma rotina equilibrada: ele à frente de jovens promessas do vôlei, ela engajada em iniciativas de inclusão social. Juntos, ainda se dedicam à criação de suas duas filhas — a mais velha, de 11 anos, e a caçula, de apenas 1 ano e 7 meses.
O que poderia ter sido apenas uma coincidência de poltronas em um voo se transformou em uma união sólida, marcada pelo amor, pela superação e pelo desejo de transformar vidas.
“Fomos surpreendidos pelo amor. Ele chegou sem avisar e mudou tudo. Hoje, olho para trás e percebo que essa parceria nos levou a lugares incríveis, mas também nos trouxe para o lugar mais importante: perto da nossa família e das nossas raízes”, reflete Sanny.
Já Angel resume com simplicidade a trajetória que o levou das quadras internacionais ao interior catarinense:
“O esporte me deu disciplina e oportunidades. O amor me deu um lar. E o Brasil me deu um futuro.”